Hoje já venho tarde. Confesso que ontem passei um feriado revolucionário
longe de tudo. Longe disto. Longe Daquilo. Ali e além, Com este e com aquele. É
necessário. Como o 25 de Abril e
tudo aquilo que significa não me passou na pele, a minha opinião é só uma
opinião. Porque não tive a felicidade de sentir uma libertação tão
emocionada. Mas isso também significa que não passei pela infelicidade que lhe
ficou para trás ou, por outro lado, pela euforia que o sucedeu. Não passei por
nada. Estou aqui. A assistir a este mundo que, em quase nada, é diferente. Digo
nada e sei que o posso dizer. Ninguém me vem prender. Mas sabemos que não é bem
assim. Sabemos que a palavra ainda tem muito caminho para andar. Livrou-se de
um lápis azul mas não se livrou de um leque de cores que tantas vezes a
censuram. A palavra é tudo. Até quando não é escrita. Até quando não é dita.
José Mário Branco, em 1982, cantou o seu texto FMI (de 1979). Um monólogo inquietante que se dirigia ao
pós-revolução. Um desabafo poético onde os sonhos e encantos do
movimento revolucionário são exaltados pela liberdade e que, ao mesmo
tempo, levam à desilusão...Um retrato muito actual das nossas frustrações.
Intemporal. Deixo aqui uma pequena parte do texto, onde a palavra aparece já
cansada...mas tão consciente como começou.
(...) o FMI é
só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na
Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse
paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a
culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh
mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...
Mãe, eu quero ficar sozinho...
Mãe, não quero pensar mais...
Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem sequer ter que me ir embora.
Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro
maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e
de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não
pode haver razão para tanto sofrimento.
E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos
partir, para regressar.
Partir e aí nessa viagem ressuscitar da morte às
arrecuas que me deste.
Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os
olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe...
Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar
nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e
ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte,
cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para
ficar... (...)
Um texto que ainda é tão actual... algo preocupante... :|
ResponderEliminarbeijinhos
http://direitoporlinhastortas-id.blogspot.pt/
Grande texto e grandes palavras! Durante os tempos mais complicados só nos resta manter o positivismo e acreditar que melhores tempos virão!
ResponderEliminarJá estou a seguir o blog :)
Beijinhos
Simply Pink
Um bom texto , nos restas sermos otimistas !
ResponderEliminarwww.nataliloure.blogspot.com
Olá Isa! Um texto que nos faz refletir em algo que é preocupante.
ResponderEliminarBeijokas da Carol e da Camila :*
www.vamospapear.com
Palmas pelo texto. Está soberbo!
ResponderEliminarIsto vai ser renhido! Ainda hoje conto os votos e coloco os resultados na página do Facebook do blog :D Sim, acho que faz sentido levar o cabelo um pouco mais desgrenhado num look mais clássico. Tem de haver aquela separação para não cair no "demasiado" beto :P
Vamos lá ver como corre :P
Instagram ∫ Facebook Oficial Page ∫ Miguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D
Adorei o texto! Temos mesmo de ser optimistas...nunca deixar de pensar positivo ;)
ResponderEliminarbeijinhos
food&emotions
http://fefoodemotions.blogspot.pt